Para onde vamos agora?
Quando menino, por mais que me esforçasse não conseguia compreender como meus pais haviam nascido e vivido um bom período de suas vidas sem a invenção e a intervenção da TV. Minha mãe costumava dizer que em sua época escolar ela apenas ouvia rádio, e quando a TV chegou ao Brasil eram pouquíssimas famílias que tinham condições de adquiri-la. Nunca me esqueço desta história, era incapaz de imaginar a minha própria vida sem a Televisão. Hoje compreendo como minha mãe se sentia, pois falarei aos meus filhos, quando estes forem maiores, que em minha época de garoto não existiam notebooks, celulares, tampouco internet com todas as suas formas de comunicação “expressa”.
Atualmente vejo como a tecnologia vem rapidamente substituindo formas convencionais de trabalho, estudo, comunicação e interação, sendo mais pragmático, vejo como a tecnologia substitui a própria tecnologia dia após dia, para suprir necessidades criadas a partir desta mesma tecnologia.
O apetite pelo consumo desacerbado por produtos tecnológicos cada vez mais rápidos, menores e mais eficazes levam a indústria digital a desenvolverem produtos melhores, transformando o mercado num círculo vicioso onde quem tem maior poder aquisitivo acaba tendo o privilégio de ter a modernidade mais perto, desfrutando de invenções inovadoras e desafiadoras.
Somos testemunhas de invenções que no meio do século passado eram inimagináveis, como por exemplo, o MP3 Player, que carrega milhares de arquivos numa caixinha plástica de cinco centímetros e transformam estes arquivos em ondas sonoras por dois micro-autofalantes, também podemos conhecer o DVD, que num pequeno pedaço de plástico redondo armazena imagens, sons e interatividade, sem mencionar os micro-celulares, câmeras fotográficas e filmadoras digitais, palm-tops, play-stations, etc. Podemos conversar com pessoas do Japão, Reino Unido, Austrália e todo o resto do mundo num simples click, podemos fazer filmes e editá-los em casa, podemos ter nosso próprio laboratório fotográfico com apenas uma câmera, um computador e uma impressora, podemos concluir nossas graduações e pós-graduações sem sairmos de nosso quarto, bem como fazer compras, jogar cartas, gravar músicas e até mesmo trabalhar.
O dia se tornou ócio sem as atribuições do “corre e corre”, muitas vezes problemático, mas sadio. Os relacionamentos se tornaram vazios e sem vida. As crianças substituíram o “pega-pega”, o “esconde-esconde”, a “amarelinha”, e outras brincadeiras por jogos eletrônicos que produzem entretenimento artificial e atrofiam a fantasia infantil. Toda essa facilidade travestida de tecnologia de ponta nos acomodou a um posicionamento estático perante problemas reais trazidos pelo progresso tecnológico e cibernético.
O Autor Marshall Mcluhan nos atenta para estes problemas e principalmente para o comodismo perante o atual posicionamento mundial quanto o desenvolvimento tecnológico e a revolução digital, estrategicamente dividindo a história em tribalização, des-tribalização e re-tribalização. Mcluhan, apesar de não ter visto o nascimento da Rede Mundial de Computadores, ele já previa este tipo de comunicação e interação, e nos anos 70 já falava a respeito dos problemas causados pelo comodismo perante as facilidades apresentadas pela revolução digital através de estudos sobre os meios de comunicação de massa como a Televisão e o Rádio.
Outro autor que comenta este tipo de assunto é Alvin Toffler, que também divide cronologicamente a história como primeira, segunda, terceira e quarta onda. Ele apresentava a era pré-agricultura e pós-agricultura como primeira onda onde as comunidades viviam necessariamente em tribos e em vilas, trabalhando antes da revolução agrícola com a caça e depois da revolução agrícola com a agricultura, todos da família se submetiam a um único objetivo, suprir as necessidades básicas de todos (alimentação, moradia e vestuário) perpetuando assim a sua “casa”, família ou “clã”. Com a revolução industrial – segunda onda - as famílias passaram a ser nucleares, não vivendo mais em tribos, mas em cidades e tendo como foco principal o trabalho nas indústrias que era de onde provinha o sustento, porém as necessidades já não eram tão básicas assim. Na revolução industrial começa a nascer os meios de comunicação de massa despertando a necessidade de consumo da população para a produção das indústrias têxteis, automobilísticas, e de bens duráveis. A chamada terceira onda, trata-se da revolução digital ou eletrônica, pela qual estamos vivenciando e tem como foco de adoração o individualismo.
A problemática encontrada por Toffler é a falta de integração destas divisões, citando, por exemplo, o Brasil, onde a convergência entre o antigo e o supermoderno é um dos traços marcantes desta época, na qual velhos problemas se mantêm em meio a um contexto de aceleradas transformações culturais e sociais. Enquanto o governo federal se esforça para disponibilizar serviços públicos na internet sem muito êxito, todos os brasileiros já votam em urnas eletrônicas, conhecendo assim o novo governante em menos de 12 horas após o término das eleições. Enquanto helicópteros ultramodernos sobrevoam a Avenida Paulista em São Paulo, militantes dos Sem-Terra fazem protestos pela Reforma Agrária na mesma Avenida Paulista.
Atualmente um dos principais críticos da chamada “cibercultura”, é o Autor Paul Virillo. Virillo diz que os avanços tecnológicos são responsáveis pelo intenso processo de aceleração da sociedade, no qual esta criaria formas de dominação a partir disto. A velocidade seria uma forma de domínio, que esteve presente tanto na revolução ocorrida nos transportes, no século passado, quanto atualmente no desenvolvimento das tecnologias virtuais. Segundo Virillo, não podemos criar uma visão romântica do progresso, tal como ocorreu no século XIX, pois ainda não se sabia quais os efeitos que esta traria a sociedade. Já sabemos a partir de todos os fenômenos ocorridos até hoje, que em todas as áreas de desenvolvimento, inclusive a científica, geraram perdas e danos. Em toda a criação estão intrinsecamente relacionados fatores positivos e negativos.
O maior questionamento sobre todo esse processo de progresso tecnológico, digital, informático e cibernético é a respeito das nossas necessidades. O ser humano não se resume as necessidades básicas de sobrevivência, como alimentação, moradia e vestiário. Também não se resume as necessidades fisiológicas. O ser humano não se contenta em ter um bom emprego, um bom estudo, um bom carro, uma boa casa e uma vida tranqüila. Creio que acima de muitas destas necessidades, o ser humano necessita do “outro”. Toda tecnologia, informática e cibernética é bem vinda, desde que atenda as nossas necessidades e as necessidades do “outro”, pois qual seria a razão de ler o meu jornal diário através da minha tela de plasma 17 polegadas do meu computador, enquanto aguardo meu café expresso feito por minha cafeteira automática, ouvindo “drum ‘n bass” em meu aparelho MP3 plugado ao meu Home Theater com efeito Surround, se meu vizinho de bairro passa fome por não ter o que comer em seu barraco de tábua, coberto somente pela metade e de chão batido, onde não existe ao menos um banheiro?
Por Leandro Vinícius
Atualmente vejo como a tecnologia vem rapidamente substituindo formas convencionais de trabalho, estudo, comunicação e interação, sendo mais pragmático, vejo como a tecnologia substitui a própria tecnologia dia após dia, para suprir necessidades criadas a partir desta mesma tecnologia.
O apetite pelo consumo desacerbado por produtos tecnológicos cada vez mais rápidos, menores e mais eficazes levam a indústria digital a desenvolverem produtos melhores, transformando o mercado num círculo vicioso onde quem tem maior poder aquisitivo acaba tendo o privilégio de ter a modernidade mais perto, desfrutando de invenções inovadoras e desafiadoras.
Somos testemunhas de invenções que no meio do século passado eram inimagináveis, como por exemplo, o MP3 Player, que carrega milhares de arquivos numa caixinha plástica de cinco centímetros e transformam estes arquivos em ondas sonoras por dois micro-autofalantes, também podemos conhecer o DVD, que num pequeno pedaço de plástico redondo armazena imagens, sons e interatividade, sem mencionar os micro-celulares, câmeras fotográficas e filmadoras digitais, palm-tops, play-stations, etc. Podemos conversar com pessoas do Japão, Reino Unido, Austrália e todo o resto do mundo num simples click, podemos fazer filmes e editá-los em casa, podemos ter nosso próprio laboratório fotográfico com apenas uma câmera, um computador e uma impressora, podemos concluir nossas graduações e pós-graduações sem sairmos de nosso quarto, bem como fazer compras, jogar cartas, gravar músicas e até mesmo trabalhar.
O dia se tornou ócio sem as atribuições do “corre e corre”, muitas vezes problemático, mas sadio. Os relacionamentos se tornaram vazios e sem vida. As crianças substituíram o “pega-pega”, o “esconde-esconde”, a “amarelinha”, e outras brincadeiras por jogos eletrônicos que produzem entretenimento artificial e atrofiam a fantasia infantil. Toda essa facilidade travestida de tecnologia de ponta nos acomodou a um posicionamento estático perante problemas reais trazidos pelo progresso tecnológico e cibernético.
O Autor Marshall Mcluhan nos atenta para estes problemas e principalmente para o comodismo perante o atual posicionamento mundial quanto o desenvolvimento tecnológico e a revolução digital, estrategicamente dividindo a história em tribalização, des-tribalização e re-tribalização. Mcluhan, apesar de não ter visto o nascimento da Rede Mundial de Computadores, ele já previa este tipo de comunicação e interação, e nos anos 70 já falava a respeito dos problemas causados pelo comodismo perante as facilidades apresentadas pela revolução digital através de estudos sobre os meios de comunicação de massa como a Televisão e o Rádio.
Outro autor que comenta este tipo de assunto é Alvin Toffler, que também divide cronologicamente a história como primeira, segunda, terceira e quarta onda. Ele apresentava a era pré-agricultura e pós-agricultura como primeira onda onde as comunidades viviam necessariamente em tribos e em vilas, trabalhando antes da revolução agrícola com a caça e depois da revolução agrícola com a agricultura, todos da família se submetiam a um único objetivo, suprir as necessidades básicas de todos (alimentação, moradia e vestuário) perpetuando assim a sua “casa”, família ou “clã”. Com a revolução industrial – segunda onda - as famílias passaram a ser nucleares, não vivendo mais em tribos, mas em cidades e tendo como foco principal o trabalho nas indústrias que era de onde provinha o sustento, porém as necessidades já não eram tão básicas assim. Na revolução industrial começa a nascer os meios de comunicação de massa despertando a necessidade de consumo da população para a produção das indústrias têxteis, automobilísticas, e de bens duráveis. A chamada terceira onda, trata-se da revolução digital ou eletrônica, pela qual estamos vivenciando e tem como foco de adoração o individualismo.
A problemática encontrada por Toffler é a falta de integração destas divisões, citando, por exemplo, o Brasil, onde a convergência entre o antigo e o supermoderno é um dos traços marcantes desta época, na qual velhos problemas se mantêm em meio a um contexto de aceleradas transformações culturais e sociais. Enquanto o governo federal se esforça para disponibilizar serviços públicos na internet sem muito êxito, todos os brasileiros já votam em urnas eletrônicas, conhecendo assim o novo governante em menos de 12 horas após o término das eleições. Enquanto helicópteros ultramodernos sobrevoam a Avenida Paulista em São Paulo, militantes dos Sem-Terra fazem protestos pela Reforma Agrária na mesma Avenida Paulista.
Atualmente um dos principais críticos da chamada “cibercultura”, é o Autor Paul Virillo. Virillo diz que os avanços tecnológicos são responsáveis pelo intenso processo de aceleração da sociedade, no qual esta criaria formas de dominação a partir disto. A velocidade seria uma forma de domínio, que esteve presente tanto na revolução ocorrida nos transportes, no século passado, quanto atualmente no desenvolvimento das tecnologias virtuais. Segundo Virillo, não podemos criar uma visão romântica do progresso, tal como ocorreu no século XIX, pois ainda não se sabia quais os efeitos que esta traria a sociedade. Já sabemos a partir de todos os fenômenos ocorridos até hoje, que em todas as áreas de desenvolvimento, inclusive a científica, geraram perdas e danos. Em toda a criação estão intrinsecamente relacionados fatores positivos e negativos.
O maior questionamento sobre todo esse processo de progresso tecnológico, digital, informático e cibernético é a respeito das nossas necessidades. O ser humano não se resume as necessidades básicas de sobrevivência, como alimentação, moradia e vestiário. Também não se resume as necessidades fisiológicas. O ser humano não se contenta em ter um bom emprego, um bom estudo, um bom carro, uma boa casa e uma vida tranqüila. Creio que acima de muitas destas necessidades, o ser humano necessita do “outro”. Toda tecnologia, informática e cibernética é bem vinda, desde que atenda as nossas necessidades e as necessidades do “outro”, pois qual seria a razão de ler o meu jornal diário através da minha tela de plasma 17 polegadas do meu computador, enquanto aguardo meu café expresso feito por minha cafeteira automática, ouvindo “drum ‘n bass” em meu aparelho MP3 plugado ao meu Home Theater com efeito Surround, se meu vizinho de bairro passa fome por não ter o que comer em seu barraco de tábua, coberto somente pela metade e de chão batido, onde não existe ao menos um banheiro?
Por Leandro Vinícius
2 Comments:
:/ . O q são os nossos valores neh!?!? lembrei di novo: "a ignorância é vizinha da maldade", isso porque essa segunda as vezes não se mostra de forma explicita, mas velada. Pq no mundo d hoje, sabemos que não é certo ficar do lado do mal, mas não se deve questionar a lógica do: cada um por si. :/ ... "Nosso descaso por educação"
ahhh, ...lembrei da estória do lolo barnabé:
http://www.cosmo.com.br/crianca/materias/literatura0701.shtm
um bju gente. o blog tá massa!
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