quarta-feira, outubro 04, 2006

OLHOS DE CRIANÇA


O que você vê?
Um chapéu!?
Ou uma jibóia que engoliu um elefante!?


O olhar de uma criança enxerga sempre além daquilo que está na frente dos olhos. A vida é a cada dia uma deliciosa descoberta. A brincadeira é a maneira pela qual cada serzinho realiza o sonho que suas idéias alcançam. E, se você pensar bem, vai descobrir que até os adultos podem experimentar essa alegria de viver como numa grande brincadeira.
Eu acho que posso apontar um responsável pela nossa falta de disposição em brincar na vida: o costume.
Crianças são pessoinhas que acabaram de chegar nesse mundo, elas olham pra tudo com uma curiosidade incrível, mesmo não tendo estudado essas coisas, elas sentem que existe um sentido gigante pra tudo o que seus olhos enxergam, e por esse motivo, correm atrás da vida, com uma energia que parece não acabar nunca. Ao final de cada dia, chegam a dormirem exaustos de tanto que tentaram aproveitar.
Isso pode descrever a simplicidade com que encontram a felicidade.
O Motivo da criança parece ser a vida por ela mesma e nada mais. O tempo que elas ganham quando o sol nasce a cada dia, o colorido do mundo em árvores, grama, florzinhas, a água geladinha da chuva às vezes no final da tarde, o morninho da calçada quando está de pé descalço... Elas sentem de muitos modos e também falam dessas coisas de muitas maneiras, repare como seus olhos nos dizem junto com o sorriso inocente, tipo aquele de quando ganham algodão-doce.
O que é a felicidade? Qual o sentido da vida? Você se faz essa pergunta? Eu penso nisso, e concluo que deveria ser, pra quem já cresceu, a pergunta mais importante do mundo. Digo mais importante pros adultos, porque para as crianças a ordem é inversa, elas nasceram com a resposta dentro delas, e só depois, com o passar dos anos, começam a pensar na pergunta, o que acho estranho é que é justamente nessa hora que elas esquecem a resposta.
Comigo aconteceu bem assim, e andei perguntando pra saber se era normal.
O que é felicidade?
Muitos me apontaram a causa de suas alegrias, um momento, uma pessoa, uma descoberta. Outros me contaram sobre aquilo que lhes faltava para serem felizes, e fiquei curiosa em saber onde mesmo nasceu isso de ter que depender.
É que antes, na infância, a felicidade andava de mãos-dadas, e agora parece haver uma ponte antes dela.
Somando o total de respostas, pude perceber que era mesmo “normal” essa coisa de ter ponte como meio pra felicidade, mas aí estudei no dicionário o sentido de normalidade (olha que engraçado): uma coisa não é normal quando está certa de verdade, mas simplesmente porque muita gente deixa que ela se repita e aí outros copiam isso agindo da mesma maneira, ou seja, todo mundo se acostuma, e depois, chama de normal, aí muita gente pensa que é verdade.
Então fiquei um pouco triste, e decidi pensar numa saída, estou escrevendo aqui, pra saber se encontro mais gente que se preocupa com essas coisas, porque pra mim, parece mesmo muito importante pensar nisso. E pensar junto já é uma alegria, porque a gente descobre que é maior do que pensava, pensa assim no outro igual a gente, mesmo sendo diferente ( em algumas coisas), mas colado um no outro pra construir um sentido e encontrar as respostas.
As crianças fazem assim quando se juntam pra brincar de roda, e giram na ciranda,... Cada ponto do rodar tem uma vista diferente, passam uma a uma, ponto a ponto, e, enxergam o mundo inteiro a sua volta.
Acho que por verem tanto é que nem se lembram de perguntar pelo sentido, mas continuam no giro gostoso, de mãos unidas da dança.
Pensando nisso, encontrei uma resposta, e me perece bem certinha ... De que não deveríamos ficar sempre parados, no mesmo ponto da roda, ou do mesmo lado da ponte, olhando a felicidade do outro lado e os empecilhos no meio do caminho. É importante girar, mudar de ponto, também de mãos-dadas, olhar pro lado e ver outras formas de alcançar felicidade, algumas bem mais simples do que pensávamos, e outras alegrias também diferentes daquelas que estavam do lado de lá daquela ponte. O importante é despertar em nós a admiração com a vida, o olhar de criança, que enxerga além do que os olhos podem ver.

“O essencial é invisível aos olhos, só se vê bem com o coração”

Frase e ilustração extraída do livro: “O pequeno príncipe” de Antonie de Saint-Exupéry


Por Carla Novaes*